O meu primeiro baralho — como a minha avó me iniciou no mundo das cartas

Há histórias que não começam com um manual, nem com um curso, nem sequer com um tarot conhecido. A minha começou no colo da minha avó materna — com um baralho antigo que não tinha nome, nem fama, mas tinha alma.

Eu era pequenina quando comecei a apaixonar-me pelas cartas.
A minha avó não me ensinou o tarot, nem o baralho cigano, nem nenhum oráculo que tu possas encontrar nos livros.

Ela ensinou-me com o que tinha… com um baralho muito antigo, que era dela, guardado com cuidado, e com um saber que vinha de dentro, daqueles que não se explicam — só se sentem.

Lembro-me do cheiro das cartas, do som que faziam quando ela as baralhava, do jeito como ela olhava para elas com uma confiança tão serena, como quem conversa com um velho amigo.
Eu observava tudo. Absorvia. Aprendia.
Sentia que aquilo era mais do que um jogo, mais do que adivinhação — era uma linguagem da alma.

Foi com esse baralho sem nome que eu tive o meu primeiro contacto com o mundo dos oráculos.
E foi amor à primeira vista.

Com o tempo, claro, fui-me abrindo a outros baralhos, a outros oráculos. Vieram o tarot, o baralho cigano, os oráculos contemporâneos… vieram estudos, aprofundamentos, técnicas e simbolismos.

Mas nada — absolutamente nada — substitui o que aquele primeiro baralho me fez sentir.

Ele não é meu. Nunca foi. Continua a ser da minha avó.
Mas tem um lugar eterno no meu coração.

É ali que começou tudo.
E é por isso que hoje, cada vez que abro um baralho para uma leitura, seja para mim ou para alguém, levo comigo aquele gesto simples e mágico da minha avó. Levo a memória dela. Levo o respeito, o amor e o encantamento com que ela me ensinou a escutar as cartas — e, acima de tudo, a escutar a vida.

Obrigada, avó, por me ensinares o primeiro baralho que me ensinou a escutar a alma.